Os militares fizeram um padre duvidar de Deus

 

Segundo o fotojornalista Rodrigo Dias, a imagem, não menos terrível do que se parece, trata-se na realidade de uma demonstração de como torturar.
Militares carregam manifestante em pau-de-arara

 

“Padre Nascimento era uma das figuras mais folclóricas do presídio. Quando entrou pela primeira vez no pavilhão da Detenção, tinha a mão esquerda levantada, com o punho cerrado, e na direita arrastava uma canastra de frutas e queijos para os presos. Diretor de uma creche para órfãos na cidade de Niterói, foi preso por ingenuidade, enquanto percorria as lojas da cidade pedindo contribuições aos comerciantes para “as famílias dos pobres comunistas presos em novembro”. Alguém o denunciou e ele foi levado preso ao Rio de Janeiro. Quando chegou à rua Frei Caneca, os policiais o ameaçavam:

– Agora, padre filho da puta, vamos colocá-lo com os comunistas e o senhor vai ver de perto quem são os demônios para quem pedia dinheiro.

A forma que a polícia encontrou para martirizá-lo foi obrigá-lo a assistir a sessões de torturas na Casa de Correção, pavilhão vizinho ao da Detenção. Depois de uma dessas experiências, ele parou em frente à cela de Olga Benario, olhou fixo para a barriga arredondada da alemã e jogou-se ao chão, de joelhos, com as mãos postas, perguntando pateticamente a ela:

-Diga-me, senhora: haverá Deus?”

 

Trecho do livro “Olga”, por Fernando Morais

 

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